Semicondutores: entenda a crise e seus impactos na indústria

semicondutores

Apesar da melhora nos indicadores, o setor eletroeletrônico nacional continua enfrentando dificuldades para adquirir semicondutores no mercado internacional. Segundo a última Sondagem Conjuntural da Associação Brasileira do Setor Elétrico e Eletrônico (Abinee), 73% das empresas que utilizam o componente relataram obstáculos na importação desses itens. E a expectativa é que o cenário não se altere em 2022: 45% das empresas acreditam que o abastecimento de semicondutores irá normalizar apenas em 2023, enquanto 25% sequer arriscam uma previsão. 

Para enfrentar a chamada “Crise dos Chips” e a desestruturação da cadeia de suprimentos de semicondutores, os setores impactados estão mudando a forma de se relacionar com seus fornecedores, enquanto os governos atuam para atrair investimentos nessa área e reduzir a dependência da cadeia global.

Neste artigo, você vai entender o que desencadeou a crise e quais os impactos da escassez de semicondutores, um dos componentes mais importantes para o setor industrial. 

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Afinal, o que são semicondutores?

Compostos por silício ou germânio, os semicondutores são materiais que conduzem correntes elétricas em um nível intermediário aos isolantes — que não conduzem bem a energia elétrica — e os condutores — que têm facilidade em conduzir energia. O seu grande diferencial, no entanto, é sua capacidade de transmitir a corrente elétrica somente quando há estímulo.

Devido às suas caraterísticas, os semicondutores são matéria-prima para a produção de chips usados na fabricação de uma variedade de dispositivos eletrônicos, como smartphones, notebooks, aparelhos de TV, videogames, calculadoras e assistentes virtuais, bem como carros.

Aliás, a utilização dos semicondutores em automóveis cresceu nos últimos anos. Para você ter uma ideia, em um único veículo podem ser usados até 1.100 destes componentes em toda a parte elétrica, como gerenciamento do motor, conectividade, direção autônoma e controle de emissão de poluentes. 

E a demanda por semicondutores deve crescer nos próximos anos, principalmente com a expansão da internet 5G e a popularização dos veículos elétricos e autônomos.

Veja em quais áreas os semicondutores estão presentes:

  • Networking e comunicações;
  • Processamento de dados;
  • Indústrias (energética, medicina, aeronáutica e reparação);
  • Bens de consumos;
  • Automotiva;
  • Computadores e servidores.

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Entenda a “Crise dos Chips”

Em 2020, com o início da pandemia e as medidas de prevenção, como o lockdown, diversas indústrias automobilísticas suspenderam a produção — como a Honda e a General Motors (GM). A crise também reduziu a demanda por veículos novos, por isso essas empresas cancelaram encomendas de semicondutores utilizados em seus veículos.

Por outro lado, o crescimento do home office e da educação à distância impulsionou a procura por eletrônicos, como computadores, TVs, smartphones, dispositivos inteligentes para residências, bem como tecnologias para fomentar a automação, implantar a internet 5G e a computação em nuvem.

O aumento foi tão grande que os fornecedores de semicondutores não conseguiram atender o mercado, o que também foi motivado pelas dificuldades de produção e logística causadas pela pandemia. Muitos desses fornecedores tiveram que paralisar a produção, o que resultou em gargalos em várias etapas. 

A situação se tornou ainda mais grave com a retomada da indústria automobilística. A produção superou o ritmo normal, e a demanda por semicondutores de outros setores já estava alta, o que fez com que os fabricantes de automóveis tivessem que aguardar para receber seus componentes — até porque a produção desses itens requer um planejamento anual. 

A geopolítica da crise

Conflitos, sanções econômicas e incêndios também refletiram na “Crise dos Chips”. A guerra entre Ucrânia e Rússia pode prejudicar os fornecedores de semicondutores, pois esses dois países são os maiores produtores de paládio e gás neônio — substâncias essenciais à produção dos chips.

A disponibilidade dos componentes também está sendo afetada pela inclusão da SMIC (Semiconductor Manufacturing International) — maior fabricante de chips da China —, em uma lista que restringe o acesso de empresas a tecnologias de ponta desenvolvidas nos Estados Unidos (EUA). A medida, que foi tomada pelo próprio governo do país norte-americano, já está impedindo que a SMIC mantenha sua capacidade total de produção.

A cadeia de produção de semicondutores foi, ainda, impactada por dois incêndios ocorridos no Japão: o primeiro em outubro de 2020, em uma unidade fabril da AKM (Asahi Kasei Microsystems), e outro em março de 2021, em uma fábrica da Renesas Electronics Corporation.

Quais impactos da escassez dos semicondutores na indústria?

Um dos primeiros impactos foi a paralisação parcial ou total da produção em empresas de vários segmentos, principalmente nas indústrias automobilísticas. Devido a falta do componente, essas empresas decidiram remover equipamentos dos seus novos carros e prometer atualizações futuras aos seus clientes. A GM, por exemplo, está incluindo itens em veículos já vendidos conforme obtém semicondutores.

Mesmo com a retomada da produção e fornecimento de matéria-prima e componentes, o aumento do consumo represado faz com que a situação continue se prolongando. O consumo de eletrônicos também continua acelerando apesar da maioria dos países ter superado a fase mais crítica da pandemia, o que se justifica pela transformação digital que foi impulsionada durante esse período.

Confira outros impactos da “Crise dos Chips”:

Aumento do preço dos semicondutores

Com muita procura e pouca oferta, o preço dos semicondutores subiu, assim como as despesas com logística. Aliás, existe a preocupação de que o conflito na Ucrânia continue colaborando para o aumento desses custos. Mas para os fornecedores, há lucros. As vendas globais do componente saltaram mais de 25% em 2021, e atingiram um faturamento de quase US$ 556 bilhões.

Atraso na produção e entrega

Algumas montadoras ainda estão com filas de espera para compra de carros novos. As empresas também estão lidando com flutuações cambiais e aumento do custo em matérias-primas, como aço e borracha. Muitos compradores desistem dos negócios e optam por semi-novos. Estima-se que a Ford já tenha somado mais de US$ 2,5 bilhões em perda de faturamento desde o início da crise. Na indústria eletroeletrônica brasileira, 39% das organizações afirmam estar com atrasos na produção e na entrega, segundo a sondagem da Abinee.

Alternativas à cadeia global de semicondutores: a principal lição de crise

A própria cadeia global de semicondutores é um obstáculo para o fim da escassez dos chips. Hoje, o fornecimento do componente está concentrado em pouquíssimos players localizados, principalmente, na Ásia. 87% da produção de semicondutores é proveniente de três países — Taiwan (63%), Coreia do Sul (18%) e China (18%) —, sendo que apenas a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company) detém 54% da fabricação.

As fornecedoras de chips até podem aumentar a capacidade de produção, mas esse é um processo lento, já que os semicondutores são dispositivos muito complexos, o que requer bilhões de dólares para colocar uma nova unidade em funcionamento.

Grandes empresas também podem abrir suas fábricas de semicondutores — como a Intel, que terá uma nova unidade para atender a demanda por semicondutores, no Arizona. Não por acaso, EUA e União Europeia estão adotando medidas para atrair investimentos nessa área.

No Brasil não é diferente. A Lei 14.302/2022 alterou o prazo de vigência de incentivos ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) que, entre outros objetivos, busca atrair foundries.

A curva de aprendizado é longa, por isso ainda serão necessários alguns anos para as empresas deixarem de depender da cadeia global atual. Enquanto isso, é preciso planejar melhor e manter o estoque de semicondutores com o que é essencial para não paralisar a produção e garantir a sustentabilidade dos negócios.

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